domingo, 22 de outubro de 2017

"Homem dos sonhos"



Pois se paro a pensar sobre o homem dos sonhos,
Mal reconheço os anseios de meu coração
Hoje não quero mais nada dele ou de qualquer outro,
A não ser o prazer de me tirar da solidão.

Se me pego agindo como tolo por amor,
Rejeito por imediato as desgraças que isso traz
mesmo tendo eu permitido, escolhido a dor
Queria eu ser forte para não te desejar mais.

Minha guerra não é contra o amor que ecoa em meu peito
Minha guerra é contra a certeza de nunca ter o que lhe dedico,
Retribuído com desvelo,
Por sequer um dos amores tão queridos.

A infelicidade maior é saber que se pode ter tanto
Quando não se é necessário nada para sorrir
Basta me amar de perto e constante,
Até o fim da eternidade se cumprir.



Ayron B.

"O Cancioneiro"



Me encantam as memórias de nosso tempo
Tempo velho e morto, que carrego nos átrios do coração
Eras belo passageiro, eras sedutor cancioneiro,
Que à vante me tocava ao me embalar.

Por pouco não fizeste me matar
Quase me deixo levar pelo pudor de seu galanteio
Se não fosse eu tão cabreiro,
A essa altura me entregava ao mar.

Se tu me amas como diz a canção,
Te aconchega e pensa em nada
Me acalente com perfume seu e me ampara
Não deixa o suspense maltratar.

Quanto mais penso, mais te esqueço
Te desejo a morte e a conheço
Te desonro e desfeiteio
Me faço de tolo para te amar.



Ayron B.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

"Dito popular"

Um antigo dito popular costuma, sempre que citado, nos alertar que "aqui se faz, aqui se paga". Claramente, ninguém atribui a ditos populares a sabedoria óbvia que neles se encontra embutida.
Uma vez um velho e sábio homem, me disse que "um galho sozinho se parte com facilidade, mas um feixe grande dificilmente se partirá", também que "quando dois aleijados andam juntos, um escora o outro", mas obviamente se um deles decide partir, mas deixando o outro para trás, ambos devem encontrar uma forma de se manterem de pé sem o suporte que o parceiro outrora proporcionara. Acredito que o mesmo caberia aos galhos se separados. 
Imagine só, se de uma maneira hipotética, nós, precisados de companhia como somos, nunca encontrássemos alguém que suprisse essa nossa necessidade! Penso que seria de grande tristeza. 
Mas eu, em minha curta existência, hoje, posso afirmar, garantir, firme e convictamente, que "antes só, do que mal acompanhado". Vagar por esse mundo, cheio de necessidades de afeto, incentivo e desejos carnais a serem supridos, não deve ser fácil quando não se tem ou nunca se teve ninguém. Porém, nada se compara ao amargor que te sobe o esôfago, quando se ouve a voz do abandono ou o grito estridente da traição. Aí, não há outro caminho, senão deixar pra trás o antigo suporte, agora encosto, seguir em frente como possível for, aguardando pela oportunidade de se conhecer um novo alguém, que te sirva de suporte, consolo ou incentivo.
Se a missão for difícil, árdua e trabalhosa, a persistência pode ser sua melhor amiga para a ocasião, afinal, "antes tarde do que nunca".



Ayron B,

"Noite astral"

Já não me recordo quantas noites foram perdidas, nunca esquecidas, só perdidas. E diante de mais uma, creio estar sendo redundante e pleonástico. 
Se referir à noite, não necessariamente envolve a intenção de citar o pôr do sol. A noite neste caso é menos poética, menos natural, menos bela... 
Falar da noite astral, é falar da tribulação diária que é acordar, intencionalmente se levantar com expectativas de um dia melhor, mas falhar em todas as tentativas, alcançando por fim o fracasso total.
Pode soar fraco e tendencioso, mas tenho aprendido todos os dias, como criança ingênua que ainda sou, que o que se pensa e o que se sente, está tão dividido quanto o dia e a noite. O dia nesse caso é o que se pensa: Claro e simultaneamente óbvio, dinâmico e mutável. A noite porém, sendo o que se sente, é tão misteriosa que parece vista por um véu, meio nítida, semi-permeável, translúcida, assim como num lusco-fusco. É incerta, desencorajante, com tendências maiores ao tédio, medo, insegurança. 
Por aí se entende a noite astral. A concepção é possivelmente tão pouco clara, quanto sua definição, porém concreta. 
A sensação que se tem quando se está preso em uma noite astral, acredito ser similar à morte, mesmo que ainda não tenha tido o prazer de conhecê-la. É a sensação de prisão num tempo e espaço contínuos, vazios e escuros, sem por quê nem pra quê, e neles simplesmente existir. É um sentimento pesado de fracasso e inutilidade indescritíveis.
Depois de tanto tempo sucumbindo à tal situação, entende-se não existir outra alternativa senão aceitar os fatos, e como se não houvesse outra alternativa, deixar-se vagar como que meio morto até o fim do que claramente é infindável, sem expectativas ou anseios, pela eternidade a esperar.





Ayron B.


sábado, 27 de julho de 2013

"Fardo"







Olhe só no que nos metemos! Embutimos o prazer da presença, num acúmulo de conforto e desapego.
Pois então meu amo e Senhor, caça-te novo rumo de vida, nova sina, nova rima, novos amores...
Já esquecestes, pois, tanto gasto, já tanto trabalho terminado, tanto doado, tanto abraço, tanto fardo? Me diga meu amo e Senhor!
Cito então a musa, repito a rima já clichê do poeta delgado, enriqueço pois, a fala e repito alto a maldição que me assola... nome seu. Maldito seja!
Me afasto arrastado pra longe, almejando do meu canto fúnebre a volta, desejando de minha carne já morta o restauro, assim como sinto que não mais se importas se é vida ou morte...
Anjo recaído! Percebo os anseios de seu coração, sinto o moldar de suas fases, trocando de pele o rastejante hospedeiro desconhecido. Consuma-o! Não o perca de vista, não o deixe entrar e tomar espaço, por favor eu imploro louca alma vagante, mate-o enquanto ainda é fraco! Antes que me mate eu, de tão fraco...
 
 
 
 
Ayron B.


quarta-feira, 8 de maio de 2013

"O que são palavras?"

 
 
O que são todas essas palavras que a tempos ouço, sem traduzir sentido algum? De que tipo são os vocábulos inexplicados regurgitados indefinidamente, causando som estrondoso de dor? Cala-te pobre alma! Emudece-te pobre espírito drogado, divinamente fadado ao luto eterno...
Quem ouço vindo de longe, com contos antigos, já recém-diagnosticados incertos? Quem mudamente canta a mandinga xamânica, tecendo com língua afiada, cordéis de mentira plena, as não verdades mal ditas?
Cala-te ó cipó de aroeira! Larga o lombo do pobre coitado. Não açoite com lástimas e mágoas quem lhe deu perdão. Excomunga então, liberta, alforria!!!
Mendigando então ainda vou, por palavras afortunadas, de brilho barato e sintético, cedidas por lábios enriquecidos, antes por mim merecidos, frutos de tão grande amor...
 
 
Ayron B.
 

quarta-feira, 13 de março de 2013

"O Desertor"





Cego voo eu, caminhando sobre o ar que leva faceiro o cotidiano do viver. Corro de canto a canto do mar, nado sem rumo, sem prumo ou pudor, nado sem canseira...
A vida tem sido um fluxo inconstante de êxtases homeopáticos, de curtos períodos de um hemorrágico fluir do que vem de dentro e se eterniza lá fora.
Calam-se os lábios então, do pobre coitado que clama por cura, por abrigo, por um porto seguro...
Viver já não é como costumava ser. Solicita-se então curriculum vitae, histórico escolar, exame de DNA, para comprovar a aptidão do desesperado para se manter sobre a superfície.
A morte então já não parece tão ruim aos olhos do desgraçado já desertor, a ponto de abandonar a si próprio, a seu eu, seu ego, sua raça.
Canto então, alegremente , rejubilo-me ao recordar, que existe mais, muito mais a esperar, por uma pobre alma, já vazia e tão cansada, da batalha que é existir e continuar...



Ayron B. 

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

"Morto Vivo"


Te vi nu, cru, insosso, ateu, frívolo, cálido, morto. Vivo... Perseguindo-me com mãos fúnebres e putrefatas, decompostas, urrando por vísceras, clamando por intermináveis sessões de horror, devassidão e luxúria. 
Corri puro, só, vago, sátiro, esperto. Corri pra longe da morte que o trazia em desesperado fulgor, lutando para viver, golpeando-te de longe para que não me ferisse.
Deparei-me súbito contigo. Arrepios são meras sensações de formigamento quase insensíveis, quando agora se está nos braços de um sanguinário maldito. Um morto vivo que grita alto, que ruge por sangue quente, por pulso, por luto.
A luta é vã quando se trata de um monstro sobrenatural, terrorista do passado, montado em erros antigos que agora , supostamente não deveriam ter valor, mas são caros. Paga-se um preço altíssimo.
Correr não faz sentido, esconder-se tão pouco. Cabe então render-se ao hábito, ao bafo quente do suspirar da morte que se aproxima já montada, já armada, assassina.
Rendo-me então ao seu hálito de podridão, que ao poucos seduz, levemente conduz, ao sepulcro já preparado, limpo e adornado, para um, como eu, pobre coitado, descanso eterno de nós. Me entrego ao defunto andante, ao meio-vivo, terror galopante, que aos poucos me suga, me devora, me consome, tentando por mais uma vez, sentir o prazer de provar de mim, do meu amor, meu pudor, minha tristeza, até meu fim.



Ayron B.

sábado, 1 de dezembro de 2012

"Vingança"




Então esse é o fim de tudo... Eu caí e você não pode me segurar, por que se manteve longe de mim, se manteve inexistente, como sempre foi e eu não dei conta.
Eu fui estúpido em imaginar que alguém como você poderia sentir algo humano, algo digno. Você se perdeu nesse mundo meu pedaço amado de absolutamente nada. Queria eu poder te concertar, como se faz a um brinquedo quebrado, a um objeto que se gosta muito. Mas primeiro de tudo, não se concerta o que não se quebrou, já que você veio ao mundo deformado com tanta maldade e frieza. Não se concerta algo como você, por que se perde tempo tentando se recuperar o que se ama, e você arrancou qualquer espécie de amor de dentro de mim com tamanho descaso.
Nunca me senti tão vazio a ponto de meus dedos escreverem com inacreditável autonomia. 
Eu caí, graças a você... Mas em questão de segundos eu me vi de pé, te amaldiçoando e praguejando, te desejando o pior, querendo o seu fim.
A raiva passa, mas o ressentimento, a mágoa, a repulsa vão ficar, para me lembrar do dia em que você me fez me sentir um príncipe encantado de contos e fada, só pra me matar, me tirando meu final feliz.
Eu acreditei já ter visto e sentido de tudo na vida, mas obviamente eu estava completamente errado, por que  quando o assunto é você, o jogo é sujo, desonesto, sem compaixão e amedrontante. Mas me cansei dessas viradas de jogo. Me cansei de você.
Não vou agir como um tolo novamente, por que sei que é exatamente o que você espera de mim. Desta vez não vai ficar por tão pouco, meu amado. Estou perto demais para iniciar uma guerra, então vou jogar o seu jogo. Vou brincar de ser um monstro oco, baixo, sem coração e vulgar que eu sei que você é. Vou te mostrar que tudo o que eu te ensinei e foi em vão, me fez perceber que eu é que devia aprender de você. Foi exatamente o que eu fiz.
Você  achou que ia correr por aí crescendo sua coleção de corações destruídos sem pagar um preço por isso, mas se enganou. Se lhe resta qualquer apreço que seja, por alguém, por alguma coisa, eu vou pegar isso, transformar em um grande monte de cacos, destruir, espatifar, pulverizar, e te devolver em um embrulho aparentemente lindo e apaixonante, como um sorriso seu...




Ayron B.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

"Drama"




Cansado da minha própria mente, me deito em sono vazio e cheio de sonhos... nenhum deles sobre você. Mereço mais do que tanto drama, tanta trama, Se você tanto diz que me ama, um vício tem. Seres assim nunca amam ninguém.

Ayron B.