Te vi nu, cru, insosso, ateu, frívolo, cálido, morto. Vivo... Perseguindo-me com mãos fúnebres e putrefatas, decompostas, urrando por vísceras, clamando por intermináveis sessões de horror, devassidão e luxúria.
Corri puro, só, vago, sátiro, esperto. Corri pra longe da morte que o trazia em desesperado fulgor, lutando para viver, golpeando-te de longe para que não me ferisse.
Deparei-me súbito contigo. Arrepios são meras sensações de formigamento quase insensíveis, quando agora se está nos braços de um sanguinário maldito. Um morto vivo que grita alto, que ruge por sangue quente, por pulso, por luto.
A luta é vã quando se trata de um monstro sobrenatural, terrorista do passado, montado em erros antigos que agora , supostamente não deveriam ter valor, mas são caros. Paga-se um preço altíssimo.
Correr não faz sentido, esconder-se tão pouco. Cabe então render-se ao hábito, ao bafo quente do suspirar da morte que se aproxima já montada, já armada, assassina.
Rendo-me então ao seu hálito de podridão, que ao poucos seduz, levemente conduz, ao sepulcro já preparado, limpo e adornado, para um, como eu, pobre coitado, descanso eterno de nós. Me entrego ao defunto andante, ao meio-vivo, terror galopante, que aos poucos me suga, me devora, me consome, tentando por mais uma vez, sentir o prazer de provar de mim, do meu amor, meu pudor, minha tristeza, até meu fim.
Ayron B.
Nenhum comentário:
Postar um comentário