
Fecho os olhos e aguço os ouvidos. O som lá de fora chora feito criança com fome.
O vazio barulho da cidade, cheio de onomatopéias sem sentido, estridentes e perturbadoras, penetram a mente do homem solitário que nada mais tem para descrever, senão seu próprio eu vazio de si e cheio dos outros. Completamente cheio de todos.
O som choroso da brisa fria da noite de domingo. É fim de ano, tudo chora tudo ri, tudo é festa, retrospectiva de tudo que foi totalmente sem intenção alguma, posto num pedestal quebradiço, feito do vidro mais vagabundo, durante todo o ano.
O som tilintoso do gotejar da chuva de verão que cai no vidro da janela, lembrando-me os “ding-dongs” dos sinos ingleses, das capelas napolitanas, dos gongos mandarins, dos “bips” americanizados. Novos tempos... Viagens que eu não fiz.
A umidade que escorre de fora pra dentro, invadindo meu espaço outrora tão aquecido, seco, aconchegante, fazendo-me lembrar que o lado de fora ainda existe. Não que este homem não se lembre de sair, mas lá fora chove, venta e faz barulho. Volto pro meu aconchego, de novo solitário, sem nada a descrever, vazio, cheio de todos.
Ayron B.
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