domingo, 6 de fevereiro de 2011

"Cicatrizes"


Você me feriu...

Deixou uma ferida aberta e tão profunda, que já não sei se um dia ela vai se fechar.

Você me fere...

Todos os dias com a frieza do seu olhar, das suas palavras, da sua indiferença, da sua falta de amor; você revira as víceras da mesma ferida que outrora me causou.

Você se feriu...

Ao abandonar todos os seus paradigmas por um absoluto equívoco de vida.

Você se fere...

E insiste em se ferir todos os dias, ao reprovar o que seu espelho lhe apresenta, ao ignorar o amor que lhe ofertam, ao despresar a vida que lhe foi dada. Pra ser vivida.

Você vai me ferir...

Sei que vai...

Você sabe até por onde começar, e todos os dias insiste em me fazer acreditar nessa mentira, que impede a fístula purulenta que se formou, de ter um fim. Amor...

Cicatriz...

È tudo o que vai me restar...

Quando mais uma vez você romper os pontos que tanto tempo eu demorei para cozer, na pele já quase morta do meu coração. Naquela ferida imunda que ao longo do tempo eu deixei você cultivar, sem perceber o quão profundo você tocava. Já sem ferida, mas com marcas, muitas marcas, eu vou olhar para tras e te querer de novo; Te querer como já quis insaciavelmente. Mas vai bastar olhar para os sinais, as cicatrizes, pra me lembrar do quanto você me fez mal, e então, te amar outra vez...




Ayron B.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

"Morte e convivência"


Suspiro profundo... "Ai, a vida!"
Suspiro abafado. Morte.
Ambas chegam de repente, sem avisar, causam um monte de sentimentos intensos e muitas vezes duradouros... para quem prossegue a viagem e para quem estaciona. Ambas são necessárias e ambas são inúteis. Quem convive é quem diz. Quem sente é quem diz. Quem faz é quem diz. Quem não passa... perdeu. Poderia ter dito.
Se hoje um anjo maroto, com um belo sorriso exposto, se virasse a e perguntasse: "O que pretendes na vida?"
Eu, ainda mais maroto, com essa minha cara de bobo, responderia ao anjo animado: "Viver".
Assim como qualquer outro, o anjo me faria uma cara de sabido, riria os lábios de lado e debocharia. Eu o indagaria: "Mas o que faria eu, senão viver um dia após o outro?!".
A vida chega aos poucos, a morte chega súbita. Viver um dia após o outro não é deixar o fluxo do rio da vida lhe carregar. Viver é aceitar todos os dias, que não há forma de não morrer. E assim, trabalhar pra que valha a pena o viver.
O viver é eterno pra quem nunca morreu, mas a morte, ao contrário do que muitos dizem, eterniza toda uma vida. A morte, faz ser pra sempre todas as suas conquistas, seus sonhos realizados, seus entes amados, seus sorrisos doados, seus dias de sol, suas noites frias, os abraços e beijos, as alegria e as tristezas...
A morte nunca foi a vilã dessa história do dia após dia. A morte é a coroação do justo de viveu uma vida bem vivida. A morte é quem lhe faz parecer inesquecível. A morte não é o fim da vida; a morte é o início da memória, da saudade, dos sorrisos sem sentido, dos choros repentinos, do amor eterno e verdadeiro, aquele que não precisa de reciprocidade, já que ninguém pode mais responder: "Eu te amo, também.".
A morte é um novo descanso; um carinho de Deus... um novo suspiro profundo, longo, duradouro... eterno.


Ayron B.


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"Não há vida sem morte
Como não há morte sem vida
Mas há também uma morte em vida
E a morte em vida
É exactamente a vida
proibida de ser vivida...

A distância permite-nos a saudades
... mas nunca o esquecimento..."


Medusa